terça-feira, 12 de abril de 2011

Podiam ser nossos filhos!




MIGUEL MALHEIROS, DO RIO DE JANEIRO
 

• Manhã do dia 7 de abril de 2011. O trânsito começa a ficar realmente complicado. As TVs apresentam as imagens das câmeras da CET-Rio e mostram os caminhos menos engarrafados. Nos rádios repórteres aéreos localizam os pontos congestionados. Ouvintes telefonam, opinam. Mais um dia de "normalidade” no caos urbano.

Num repente a “normalidade” do caos é quebrada. À bala, o sagrado espaço da sala de aula é violado. 12 estudantes, 10 meninas e 2 meninos, tem suas vidas interrompidas pelas balas de dois revólveres do assassino Wellington Menezes de Oliveira. Ele mesmo um jovem: 23 anos. Impactadas as pessoas se perguntam: Por quê?

Antes de tudo solidariedade às vítimas e seus familiares. Cada um e cada uma das vítimas tinham irmãos, irmãs, primas e primos, pai, mãe, avós e avôs. Tios e tias. É a dor terrível da quebra da tendência natural da geração mais jovem sobreviver à geração mais velha.

Os bilhetes, flores, cartazes, afixados nos muros da escola mostram a dor e a solidariedade da população. Foram os filhos e filhas da nossa classe, a classe trabalhadora, que tombaram sob as balas assassinas. Neste momento somos todos pais e mães, estudantes, professores, professoras, funcionários e funcionárias da Escola Municipal Tasso da Silveira. As balas na cabeça de nossos filhos e filhas atingiram nossos corações, e essa também é a nossa dor.

Dez meninas e dois meninos assassinados, chacinados
Wellington Menezes de Oliveira, assassino suicida. 23 anos, vítima de bullying quando estudante passou pelas cadeiras escolares e seus problemas mentais não foram identificados. Ou não se teve mecanismos para encaminhar seus problemas. Não recebeu nenhum tratamento diferenciado.

O governo Dilma acaba de cortar 50 bilhões do orçamento da União. Continua a velha política de garantir os interesses dos banqueiros daqui e de fora. A política de seguir pagando a dívida pública à custa do resgate da dívida social. Mais de 3 bilhões cortados só na educação. Dilma não está sozinha. Antes dela Lula, FHC, Itamar, Collor, Sarney, os governos da ditadura... A política de priorizar os interesses dos ricos e poderosos tem suas consequências.

Na prefeitura e no governo do estado Eduardo Paes e Sergio Cabral privatizam espaços escolares, transferem recursos públicos da educação para a iniciativa privada. Atacam a aposentadoria, mantém salários rebaixados. 

A consequência é escolas fisicamente sucateadas. O ambiente escolar, por essa combinação de diferentes elementos, deixa de ser atrativo, não responde aos anseios dos estudantes que a frequentam, tão pouco aos anseios dos profissionais que a impulsionam.

Hoje o espaço escolar, infelizmente, é palco de diferentes formas de violência. Bullying, brigas violentas, agressões – físicas até – a professores.

Não é que faltem somente professores. As escolas públicas não possuem coordenação pedagógica, faltam psicólogos, assistentes sociais, pedagogos, médicos, dentistas.
Faltam inspetores, porteiros, faltam professores.

Salas de aula lotadas, 30, 35, 40 estudantes em turma. Baixos salários obrigando a dobras de vários tipos, obrigando a ter vários empregos. Tudo isso impede qualquer tipo de atendimento mais individualizado por parte dos profissionais da educação.

Hoje uma professora ou um professor, mal conseguem identificar nos estudantes problemas visuais ou motores, que dirá problemas mentais. Quando suspeitam do problema não há canais para encaminhar. Na escola não há profissionais capacitados para dar tratamento a estes problemas. Porém, também não estão na rede pública de saúde.

Ou seja, o capitalismo visa o lucro, desumaniza os seres humanos, produz doentes da sociedade, mas tratá-los, se não dá lucro, não será feito. A consequência, hoje, 12 meninas e meninos assassinados, chacinados.

TV's, rádios, revistas, jornais, vídeos-game banalizam a violência. A pobreza, e seus dramas inevitáveis, são ridicularizados e explorados. O lucro fácil colaborando com a desumanização. Colaborando com a banalização da violência, onde homicídios passam a ser triviais. Ajudam, dessa forma, a abrir caminho para mais violência urbana, agora combinada com doses de fanatismo religioso.

Os mesmos rádios, TV's e jornais que banalizam diariamente a violência uivam por detectores de metal. Clamam por colocar pessoas armadas nas escolas. Lobos escondidos em peles de cordeiros, o que vocês querem realmente é mais controle social sobre a pobreza. Mais contenção social. Já não bastam as grades, os portões de ferro? Nossas escolas se assemelham mais a prisões que a um espaço de construção de seres humanos. 

Ninguém viu que Wellington sofria intensamente. Ninguém viu que a família de Wellington estava despedaçada. Ninguém viu que dentro de Wellington a loucura crescia. Ter surgido um Wellington, no Brasil, foi só uma questão de tempo.

Imitação da tragédia, o assassino suicida copiou os ataques às escolas que não são raros nos Estados Unidos. O mais importante país desse sistema econômico em que vivemos, o sistema capitalista.

Wellington, assassino suicida, 23 anos, é fruto desse sistema. Esta é a sociedade onde um punhado de pessoas explora o trabalho de milhões e milhões de seres humanos. É no capitalismo onde o homem é lobo do homem.

Este é o sistema onde os seres humanos são desumanizados. São bestializados. São transformados em monstros. Embrutecidos, alguns se transformam em feras, animais.

Sem perspectiva de vida, ou seja, sem perspectivas de realizar-se como seres humanos, o inumano floresce. Desemprego; baixos salários; trabalhos embrutecedores, alienantes. Um mundo onde o ter vale mais que o ser, onde a competição e o individualismo são incentivados, e a solidariedade e a fraternidade são vistas como curiosidades. O resultado é a cada vez maior desumanização. O mais belo do ser humano é esmagado todos os dias. 

Este é o sistema, e o caldo de cultura, que geram assassinos suicidas no Rio de Janeiro ou em Columbine.[1] É sintomático que Wellington tenha buscado mulheres, tenha buscado, preferencialmente, meninas para assassinar. Não há capitalismo sem machismo.

Dez meninas e dois meninos assassinados. Entre eles podia estar sua filha, podia ser seu estudante. Não foram poucos os professores a refletir: Podia ter sido na minha escola, em minha sala de aula.

Wellington puxou o gatilho, mas não matou sozinho. As 10 meninas e os 2 meninos, cuja juventude foi tão violentamente interrompida, são vítimas do assassino, mas também são vítimas daqueles que lucram com este sistema econômico. São vítimas dos agentes dos ricos e poderosos instalados nas prefeituras, governos estaduais, e no governo da União.

A luta pelo resgate da dívida social, contra o corte de verbas – que em última instância engorda o bolso dos banqueiros – a luta por salário, por melhores condições de trabalho e de vida, por moradias dignas e pela reforma agrária, são parte integrante da luta contra a desumanização.

Porém estas lutas têm seus limites. É necessário ir além. É preciso cotidianamente fazer a ponte entre essas lutas imediatas e a luta pelo fim desse sistema desumanizador. A luta pela construção de uma sociedade sem explorados nem exploradores. A luta por um mundo onde homens e mulheres sejam realmente livres.

A luta por uma sociedade onde o homem ser lobo do homem faça parte da pré-história humana. A luta contra a barbárie, a luta pelo socialismo, coloca-se mais que nunca na ordem do dia. Impõe-se pela realidade.

Sim a vida é bela. Mas para que a geração futura possa livrá-la de todo o mal para poder desfrutá-la plenamente, depende de poder sobreviver. Depende de ter garantido o mais básico dos direitos: o direito à vida.

Às 12 vítimas um compromisso: seguiremos lutando por esse mundo sem explorados nem exploradores. Seguiremos lutando para que a expressão: lugar de criança é na escola, seja sinônimo de um espaço livre de opressão, livre de violência. Um espaço onde a infância possa ser exercida plenamente, e o melhor do ser humano possa florescer.


[1] Escola norte americana, no estado do Colorado, onde dois jovens se prepararam previamente e mataram 12 pessoas até suicidarem-se. Esta tragédia deu origem a filmes, entre eles: Tiros em Columbine de Michael Moore.


Retirado do site do PSTU: www.pstu.org.br

domingo, 10 de abril de 2011

Como surgiu o Trotskismo em Belém? Parte II

 1. Pré-história do trotskismo em Belém: Um Mundo em Crise Econômica.

Certamente alguns devem se perguntar como o trotskismo, enquanto uma corrente política minoritária em meio aos movimentos sociais brasileiros e internacionais, e, até certo ponto, marginal, pode chegar a uma região periférica da economia nacional. Essa pergunta só poderá ser responder se percebermos a complexidade que os anos 70 e 80 representaram para a economia e a política mundial e também brasileira.

1.1. Um Mundo em Crise Econômica.

A instabilidade e a crise se tornaram palavras comuns na boca de economistas, tanto do campo capitalista (centro e periferia), como também no lado do comunismo, ao longo das décadas setenta e oitenta[1]. Contraditoriamente, os fatores que se acreditava poder estabilizar a economia capitalista eram muito mais fortes do que nunca: controle do inventário computadorizado; melhores comunicações e transportes mais rápidos; os estoques passaram a ser menores, produzindo-se o suficiente para atender na hora os vendedores; variabilidade da produção seguindo as exigências de mudança; tudo fruto do avanço da tecnologia que dá um salto nesse período. Juntamente a esses fatores, o Estado regulava a economia por meio da política Keynesiana que consumia e gerava uma renda (seguridade e previdência publica), que injetada na economia deveria ser mais um estabilizador econômico. Mas não é isso que se verifica.[2]
No mundo capitalista desenvolvido, apesar de não se vê numa depressão aguda, podia-se perceber que a produtividade estava caindo e o comercio internacional seguia a mesma tendência. Mas o crescimento econômico continuava, só que em um ritmo menor. Já no capitalismo periférico, a palavra crise tinha um sentido mais amplo, pois o crescimento do PIB per capita cessou, verificou-se um empobrecimento da população e a produção caiu. A economia chinesa, todavia, crescia no sul e sudeste asiático, nesta, porém, a palavra crise tinha um significado diminuto e o bloco soviético mantinha um crescimento modesto, embora no final da década de 1980 desmoronasse completamente.[3]
O fato é que no coração do capitalismo a tranqüilidade já não era uma palavra muito utilizada. O reaparecimento da pobreza, do desemprego em massa, da mendicância e o crescimento econômico interrompido por várias depressões (de 1979-1982 observamos a depressão Norte Americana), formavam um complexo de desigualdade social e econômica, do centro a periferia da economia. Os Estados Nacionais perderam seu poderio econômico e os governos de bem estar social foram colocados em xeque pelas operações incontroláveis do capitalismo. Keynesianismo e Neoliberalismo duelaram. O primeiro afirmando que o Estado deve interferir na economia, regulando o mercado, criando salários altos e emprego pleno. O que havia criado no período anterior a demanda necessária de consumo fazendo a expansão da economia, sendo esse o melhor remédio para lidar com depressões econômicas. O segundo afirmava que a política de regulação do Estado impedia o controle da inflação, o corte de custo das empresas taxadas com impostos mais altos e do governo com a demanda social, levando a um não crescimento do lucro, o que realmente interessa em uma economia capitalista.[4]
A não interferência do Estado na economia sai vitoriosa. A ganância econômica é vencedora, e apesar dos países do terceiro mundo e socialistas tentarem aplicar as velhas receitas keynesianas, o ultra-liberalismo entrava numa ofensiva contra o Estado de Bem Estar Social, que vivia um desmonte de sua estrutura interna e de suas idéias em função da desaceleração econômica. Uma tragédia anunciada. Pois, na maioria dos governos desse tipo neoliberal houve sim uma intervenção do Estado na economia por orientação e administração. Mesmo nos países do leste europeu, após a queda do socialismo real, foram aplicadas medidas neoliberais pelos novos governos democráticos, que também necessitaram de intervenção Estatal.[5]
Nos países do bloco soviético a crise foi escamoteada. Na década de 1970 as economias centralmente planejadas demonstram fortes sinais de regressão e sua abertura ao capital, nesse mesmo período, demonstravam a profundidade da crise do sistema soviético. Para Hobsbawm, a diferença da crise do sistema capitalista para o socialismo real era que o comunismo era inflexível e inferior em seu sistema econômico, assim, a crise era de vida ou morte para este. No capitalismo, o sistema econômico nunca esteve em xeque, apesar do desmoronamento de seus sistemas políticos, como também, não esteve em xeque a viabilidade desse sistema. 
Desta forma, o mundo poderia ser analisado em três partes: o mundo do capitalismo desenvolvido, onde as conseqüências da crise econômica foram menos sentidas, e houve menos inquietação social; o bloco soviético, onde a crise econômica levou a um colapso do sistema;[6] e o terceiro mundo,[7] que conformava “uma zona mundial de revolução”.  

1.2. Zona Mundial de Revoluções Políticas.  

De fato, o 2º e o 3º mundo passaram por transformações radicais na esfera do econômico e político. No campo socialista o reaparecimento de relações capitalistas, em fins dos anos 70, e principalmente, a abertura dessas economias aos ditames do mercado internacional deram início a várias situações revolucionárias.
Economicamente, Já estava claro em meados da década de 1960 que o socialismo centralmente planejado pelo Estado necessitava de reforma urgente. A partir da década de 1970, havia fortes sinais de regressão real. Foi o momento que essas economias se virão expostas.[8]

            Comunistas reformadores, dentro do bloco soviético, passavam a desejar a transformação de seu sistema em democracias ocidentais capitalistas. Mas a crise econômica que abatia as economias desenvolvidas do capitalismo foi, assim também, à crise do modelo keynesiano, ou melhor, da social-democracia.  O fato é que naquela área a instabilidade social esteve presente questionando a burocracia de Estado, dos partidos comunistas. É nesse período que veremos ser realizado um golpe de estado na Polônia, conseqüência do desfecho das lutas dos proletários desse país que se organizaram em uma ferramenta de dualidade de poder: a Solidariedade.[9]
Os processos revolucionários, que se deram nesse intervalo de tempo, no leste europeu e na URSS foram marcos divisores entre a esquerda brasileira revolucionária. Os trotskistas estiveram do lado intransigente na defesa da luta desses povos para que realizassem a revolução política[10], uma tarefa idealizada por Trotsky, na década de 1930, para a superação da burocracia que restauraria o capitalismo nesses Estados. Mas, a burocracia derrotou os processos revolucionários, e como já conhecemos restaurou o capitalismo no leste europeu em fins da década de 1980.
Já no terceiro mundo, uma das poucas generalizações plausíveis era a de que suas economias se encontravam endividadas[11]. Economicamente a crise foi avassaladora para essas sociedades. E como um rastilho de pólvora, queimou a chama da luta de massas. Na América Latina os regimes militares foram um catalisador desta centelha. Entretanto, não foi o único fator a colocar em movimento os vários segmentos da sociedade. O fato é que a estagnação econômica que se seguiu a uma maior miséria material, casada à opressão dos regimes ditatoriais, construiu uma perspectiva de mudanças coletivas pelos oprimidos. Como fala Arcary (2004), na década de 70, a idéia de “grande crise” estava associada à derrubada da ditadura militar[12]. Um cenário propício para se abandonar à estratégia de guerrilhas rurais e urbanas aplicadas desde 1950 na região pela esquerda latino-americana. Uma estratégia que se verificou posteriormente equivocada, mas que inclusive por setores trotskistas foi levado acabo.
Como deixamos claro não concordamos com Hobsbawm na localização de uma zona de revolução apenas no terceiro mundo, mas sim em toda região que hoje compreende as áreas subdesenvolvidas da economia, ou em desenvolvimento. E tampouco acreditamos em situações revolucionárias sem a entrada em cena das multidões. Notoriamente fazendo uma analise dos processos revolucionários que aconteceram nesse período nessa nova zona de revoluções, como apresentamos a pouco, fica bastante claro que o principal fenômeno ocorrido foi revoluções políticas que questionaram ou a burocracia dos partidos comunistas, que pela falta de uma organização revolucionária foram abortadas dando condições para a restauração do capitalismo, ou foram revoluções desse tipo, mas por terem sido realizadas em paises capitalistas da periferia e por serem abortadas antes da tarefa final, que era destituir o sistema, foram classificadas por Valério Arcary como tal.  

1.3. Uma Situação Revolucionária no Brasil.

O Brasil, em fins de 1970, entrava em uma grave crise em sua economia. Passavam-se já mais de quinze anos de ditadura militar e o padrão de vida da população estava em queda livre. As Esquerdas estavam ainda muito abaladas pela perseguição do Estado, principalmente depois do Ato Institucional nº 5 (AI-5), de 1968, e sua estratégia guerrilheira, por mais que tivesse em algum momento logrado algum êxito, demonstrou ser incapaz de derrotar o regime ditatorial.
   Todavia, internamente, vinha se processando uma mudança qualitativa no comportamento das classes populares. Em 1968, a juventude brasileira havia protagonizado um levante que questionava a ordem vigente. O crescimento desordenado das grandes cidades do país construiu um novo movimento popular nas periferias, no inicio dos anos 70. A igreja católica, por meio de sua ala progressiva ligada à Teologia da Libertação, passa a se alinhar na luta por uma sociedade mais humana e democrática. A esquerda então passa, lentamente, a intervir por dentro dos espaços legais ou semi-legais, implantando-se no coração dos principais processos de luta, tanto populares (sindicatos, entidades estudantis, jornais e etc), como políticos. O MDB, único partido legal de oposição, tornou-se mais forte e questionou a supremacia do partido da ordem, o ARENA. E, a classe operária, principalmente a paulista, passa a protagonizar uma reorganização que impulsiona greves, que se alastram por todo o país. A resistência ao regime e a crise econômica aumenta vertiginosamente no inicio dos anos 80. Mesmo que de forma incipiente e desarticulada a resistência começa a ruir as estruturas da ordem, e passa, por meio de reivindicações, a exigir cada vez mais forte, liberdade, moradia, terra, saúde, transporte, lazer etc.

Diante do agravamento da pressão das demandas populares, o Estado brasileiro não redireciona seu modelo de desenvolvimento socioeconômico, não se estrutura para ter patamares mínimos de uma política de bem-estar social. Ao contrario, privatiza ou transfere sua responsabilidade.[13]
   
Vai se forjando no Brasil uma situação revolucionária que culminará em uma revolução política. Arcary nos esclarece a utilização desse ultimo conceito:
As revoluções políticas têm sido, no entanto, uma das formas a que as sociedades contemporâneas recorrem para resolver tarefas históricas que permaneceram pendentes. A mudança, no entanto, só excepcionalmente assume a forma revolucionária. É preciso que todas as outras vias tenham sido antes bloqueadas e esgotadas. (...) A terrível, mas inescapável conclusão de que não é mais possível mudar a sociedade utilizando os métodos das reformas – ainda quando as negociações supõem lutas de pressão – exige uma insubstituível experiência prática compartilhada por milhões. Revoluções políticas são uma irrupção da mobilização popular, sejam quais forem os seus métodos de luta, que colocam o poder em questão.[14]

Quando falamos em uma situação revolucionária queremos afirmar que está em marcha uma revolução, podendo ser abortada, antes mesmo que chegue ao momento mais crucial da disputa pelo poder, ou não. Quando a revolução é interrompida antes de seu amadurecimento, e as tarefas pela qual está sendo feita não são resolvidas, ou são parcialmente, chamamos a esse fenômeno de revoluções políticas. Este é o caso brasileiro. As mobilizações pelas diretas em 1984 e o fim do regime militar em 1985 não deram soluções aos problemas sofridos pelo povo durante toda uma etapa[15]. 
Assim, em meio ao regime dos militares, deu-se o surgimento de uma situação revolucionária construída a partir do fim do milagre econômico brasileiro, da disposição de setores sociais, antes parados, que se colocaram em movimento, passando a se organizar reconstruindo ou construindo novas ferramentas de pressão popular como: a União Nacional dos Estudantes (UNE), e as entidades estudantis, o PT no plano político, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e os sindicatos que estão sendo desatrelados do regime. As mobilizações colocavam em evidencia a tentativa de uma duplicidade de poder, mesmo que de forma molecular.
Nas regiões mais afastadas do centro econômico do país esse processo se verifica de forma parcial. Pois, em uma economia posta a serviço dos ditames da lógica do capital, todas as regiões são afetadas, principalmente aquelas que estão sendo incorporadas recentemente e que podem ser muito rentáveis. Contudo, os fatores dessa crise serão mais sentidos e outros menos, dependendo das especificidades de cada região, pois, estão inseridas neste turbilhão. Cabe observarmos as tendências e contra-tendências.

1.4. Uma Belém em Luta.
           
É por esses anos que a Amazônia passa a ser incorporada efetivamente na economia nacional e internacional. Os militares preocupados com as regiões de fronteiras buscam ter uma política de desenvolvimento para a região e aplicam medidas visando sua integração ao resto do país. O que provocará grandes transformações socioeconômicas[16]. 
Grandes obras públicas são efetuadas, que vão da criação da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM, 1966), passando pela política de incentivos fiscais para atrair investimentos para a região, novas estradas (Transamazônica, Perimetral Norte, Cuiabá-Santarém, Manaus-Roraima-fronteira da Venezuela), a “colonização dirigida” (1970-73), o 2° plano de desenvolvimento (1975-79), bem como, a construção da hidrelétrica de Tucuruí. Todo esse investimento serviria para subsidiar empresas minero-metalúrgicas, energéticas e agropecuárias[17].
Foi também feita uma divisão dos locais de implantação das indústrias. As de grande porte ficariam localizadas em novos pólos industriais criados pelo governo federal, sendo que sua produção serviria para o abastecimento do mercado externo; e as de pequeno e médio porte se radicariam nas principais cidades da região e serviriam para o abastecimento local[18].
Todo esse projeto claramente serviu para aumentar a tensão no campo e nas cidades. A Amazônia foi incorporada a economia nacional na tentativa do governo de superação do défit público e nos moldes do Neoliberalismo. Enquanto os grandes empresários usufruíam a matéria prima e as regalias governamentais, o conflito agrário aumentava vertiginosamente e as cidades vão inchando desordenadamente durante as décadas de 70 e 80. As periferias proliferam-se sem que o Estado tivesse uma política de inclusão dessas novas áreas, e as necessidades básicas (saneamento, saúde, educação, transporte e etc), raramente existem, isso sem contar os inúmeros conflitos que eclodem pela posse das moradias nesses rincões.
De uma maneira clara todos os impactos da economia capitalista em crise se instalam na Amazônia. Em Belém, um dos principais centros urbano da região, as conseqüências se fizeram sentir e a resistência às mazelas sociais assumiu uma proporção bem grande, com greves, passeatas, reconstrução de entidades e surgimento de partidos vinculados às causas dos trabalhadores. Esse é o contexto do surgimento do trotskismo na região norte do Brasil.
O jornal Resistência, em seu número 20 de Janeiro de 1981, faz uma retrospectiva das lutas sociais travadas no ano anterior e afirma em sua capa que o ano de 1980 é o “ano do protesto” em Belém. Apresentando página após página as lutas no Brasil, nos bairros da cidade, dos professores em todos os níveis de ensino, dos trabalhadores e lavradores, e dos estudantes universitários e secundaristas. Os estudantes secundários são os protagonistas da primeira regulamentação da meia passagem na cidade. Esse retrospecto do jornal Resistência deixa claro que as lutas travadas em todo o país são as mesmas que se travam em terras paraenses e que a crise econômica e a revolução política estão também entre os belenenses. “Contra a miséria, os baixos salários, a opressão e a violência, largas camadas da população fizeram de 1980 o ano do protesto, crescendo sua organização na luta contra o regime militar”.[19]
Entrtanto, como havíamos falado anteriormente, os operários que protagonizaram muitas greves desde 1978 no sudeste brasileiro e principalmente em São Paulo, não tiveram uma participação tão expressiva nas lutas sociais em Belém, pois no Estado paraense, como já apresentamos, os principais pólos industriais, que são verdadeiros enclaves, foram localizados em regiões bem afastadas da capital e o número de indivíduos pertencentes a essa categoria foi infinitamente menor do que em outras regiões do país.
Por isso, cabe observamos um pouco de como essas lutas sociais foram realizadas, e quais suas principais reivindicações. Trataremos então das principais lutas na cidade de Belém: Moradia e a dos estudantes. O jornal Resistência nos confere um bom panorama.

1.4.1. A Luta Por Moradia.
      
A América Latina viu sendo reconstruídos ou construídos vários movimentos sociais na década de 70. Eram movimentos classistas que partiam das demandas mais essenciais de vida, até as lutas anti-machismo, homofobia, racismo, desmatamento florestal e etc. Entre todo esse turbilhão de movimentos, um dos mais emblemáticos, foram os movimentos por moradia nas periferias das grandes cidades.
A cidade de Belém deu um salto no número de habitantes entre os anos 60 e 80. Estimava-se que morassem na cidade 60.399.222 habitantes em 1960, e duas décadas depois, a estimativa já indicava 933.287.000. Esse crescimento foi à base para a proliferação, na segunda metade da década de 70, de movimentos de bairros que reivindicavam a legalização da posse da terra[20].
Em 1977 surge o movimento conhecido como “guerra de poeira”, que lutava por asfaltamento de ruas e, provavelmente, um dos primeiros movimentos organizado por centros comunitários da cidade. Em 1978 surge o movimento “casa própria” que tinha como finalidade à organização dos moradores de bairros periféricos. E em 1979, funda-se a “Comissão de Bairros de Belém” (CBB), numa assembléia de moradores realizada na Paróquia do bairro da Pedreira, e que foi convocada pela Sociedade Paraense de Defesa dos direitos humanos (SDDH, 1977)[21].

No dia 26 de janeiro de 1979 foi realizada uma grande assembléia de moradores dos bairros de Belém, na igreja de Nossa Senhora da Aparecida, para se discutir os problemas de terra na cidade. Nessa ocasião foi decidido realizar um Ato Público no dia 28 de maio de 1979, a fim de exigir do governador uma providência para solução do problema de moradia em Belém. Para encaminhar essa luta foi eleita democraticamente uma Comissão, que no inicio era chamada Comissão de Terra e logo depois tomou o nome de Comissão de Bairros de Belém. Logo após o ato público foram realizadas eleições democráticas em todos os bairros de Belém para eleger novos elementos para a CBB. Alguns elementos escolhidos no bairro desanimaram. Mas a maioria ficou firme.[22] 

O avanço na organização dos bairros de periferia na cidade coincide com o aumento do enfrentamento entre moradores de um lado, o Estado, empresas ou famílias tradicionais que se reivindicavam proprietários legais dessa área do outro. Os movimentos de bairro atuavam por dentro dos espaços da igreja católica, onde principalmente ela afinava-se com a teologia da libertação. Seus ativistas geralmente faziam parte das Comunidades Eclesiais de Base (CEB’s). E, por conta de seu caráter classista, recebia o apoio de organizações da esquerda anti-regime, ou ainda, propiciou o surgimento de outras organizações políticas, quando, no calor das lutas, permitiu a experiência prática de muitos indivíduos.
Em fevereiro de 1979, o jornal resistência trazia um dossiê intitulado “Desapropriação ameaça mais de 200 mil pessoas em Belém”. Essa era a matéria central e fazia a crítica ao milagre econômico falido, a especulação imobiliária, e claramente, culpava o Estado pela situação em que se encontrava a população. Noticiava-se então a situação caótica de diversos bairros: Na Pedreira eram 900 famílias ameaçadas de desapropriação, no Jurunas 3.600 famílias, na Terra Firma 5.000, na Sacramenta também 5.000.

Existem muitos outros conflitos de terra em Belém. Basta dizer que só nas áreas de baixada quase 100 mil pessoas estão desapropriadas e que, em outras áreas, os moradores ainda tentam resolver o problema o mais amigavelmente possível[23].

A relevância da luta por moradia em terras belenenses é obvia, tanto que em vários números, ao longo dos anos de 1979-1982, o Jornal Resistência sempre trouxe matérias sobre a situação dessas lutas e da CBB. A resistência vai levando a várias vitórias, mas a possibilidade de uma abertura democrática no país vai transformando qualitativamente e descaracterizando o tipo de reivindicação que se fazia. Hoje, o movimento popular por moradia vive uma crise de articulação em nossa cidade.

1.4.2.  A Luta Estudantil. 

  Os estudantes estiverem à frente de diversas lutas, não só as referentes à educação pública, mas em todas as reivindicações que colocavam em evidência a necessidade de superação do regime militar e da ordem burguesa. Entretanto, não foram todos os estudantes a realizarem tais lutas. Eles conformam uma categoria na sociedade poli classista. Dentro das escolas e universidades havia estudantes de origem de classe diversificada. Assim sendo, a manifestação de tendências de pensamento são variadas, podendo existir estudantes pró-regime militar, bem como, os contrários.
Na virada dos anos 70 para os 80 cada vez mais estudantes se alinhavam aos pensamentos mais radicalizados e de esquerda. Era uma tendência causada pela tamanha repressão do regime e também fruto da situação revolucionária que anteriormente tratamos. E, por essa razão, os partidos e tendências políticas de esquerda viram nesse momento a possibilidade de se construírem, por dentro do Movimento Estudantil (ME), captando muitos indivíduos para as suas respectivas organizações. É assim, que o ME passa a ter uma enorme importância na impulsão dos movimentos sociais nesse período.
A juventude passa a se reorganizar reconstruindo suas entidades e as colocam a serviço das demandas sociais, ou melhor, das lutas que se travam no dia-a-dia nas cidades. Mesmo a repressão sendo forte sobre a juventude estudantil, ela não se intimidava e  logo se torna espaço fundamental de resistência.
Em 1979 a União Nacional dos Estudantes (UNE), é reconstruída e lança uma campanha nacional pela reconstrução das entidades estudantis em todo o país. A partir de então se proliferam entidades nas universidades, escolas e colégios[24].
Em Belém, o processo de articulação das entidades estudantis se dá por meio da luta pela meia-passagem, por mais verbas para a educação, contra a reforma universitária, entre outras lutas. Tanto secundaristas como universitários vão forjando novas entidade e direções à esquerda.
Os secundaristas belenenses tentam construir em junho de 1979 a União dos Estudantes Secundários do Pará (UESP), que, no entanto, pela sua localização superestrutural em relação aos próprios estudantes não consegue se afirma.

Em meados de junho de 79 os estudantes secundaristas articularam a criação da UESP (União dos Estudantes Secundaristas do Pará). Aproveitando a mobilização pela campanha da Meia-passagem, algumas lideranças estudantis decidiram ‘criar’ a entidade, sem qualquer discussão na base, levando a reboque uma grande quantidade de jovens desejosos de participação política. (...) Depois dum relativo esvaziamento na luta pela meia-passagem, graças à manobra do governador Alacid Nunes, que propôs uma comissão paritária para estudar o assunto, os estudantes secundaristas fizeram varias avaliações de sua participação e chegaram à conclusão que era preciso fazer auto-crítica em relação à criação da UESP. Com muita humildade, os estudantes reconheceram que era preciso começar de baixo e foi assim que nasceu a idéia de se criar um grupo para discutir nas escolas e colégios uma nova estratégia de luta visando a formação de uma entidade realmente forte e representativa. Foi assim que surgiu o GREMPS ( Grupo de Reconstrução Estadual do Movimento Primário e Secundário). O GREMPS articulou 2 Encontros Estaduais de Estudantes cujo objetivo era levantar novamente a bandeira pela Meia-passagem. Como tática de luta ficou decidida a criação de um comitê Central Pela meia-passagem e vários comitês em cada colégio. Embora fosse uma luta economicista, de certa forma, ajudou muito na mobilização dos estudantes.[25]

O GREMPS passa a se reunir em 1980, na igreja de São Sebastião no bairro da Sacramenta (uma paróquia ligada à teologia da libertação e muito atuante na organização dos moradores na luta por moradia). Durante todo esse ano os estudantes secundaristas e universitários vão protagonizar uma verdadeira batalha para conseguir a meia-passagem sem restrições. O Jornal Resistência deixará registrado, no já citado numero 20, de janeiro de 81 os atos públicos que foram vistos na cidade para tal fim. Após a vitória na luta pela meia-passagem, o movimento secundarista em ascensão, buscará construir a União Metropolitana dos Estudantes Secundaristas (UMES).

Atualmente, depois da vitória da luta pela meia-passagem, o Comitê Central se transformou na Comissão Pró-UMES (...). Enquanto se processa a discussão da nova entidade, as bandeiras de luta permanecem as mesmas do antigo GREMPS, como por exemplo, procurar ocupar todos os espaços dentro dos colégios, participando de Centros Cívicos e procurando a cada dia esclarecer cada companheiro sobre a necessidade de lutar pelos seus direitos. A Comissão Pró-UMES terá a participação de dois delegados por colégio, que elegerá uma comissão executiva de 5 membros.[26] 

Por esses anos o número de estudantes, só nas escolas públicas de segundo grau, girava entorno de 30 mil. É em cima dessa base que se constituirão cinco chapas que concorrerão as eleições para a UMES nos dias 15, 16 e 17 de setembro de 1982. São elas: Arrastão, Avante, Viração, Semeando e Alicerce[27]. A Votação dessa eleição foi extraordinária. A soma de todos os votos chegaria a quase 27 mil votos, sendo a vencedora a chapa Semeando. A chapa Alicerce ligada à organização que estamos estudando ficou em ultimo lugar.[28]
Para Conceição de Meneses o GREMPS foi a organização do movimento que conformou o núcleo fundador da organização trotskista Convergência Socialista (CS), que por esses anos, por conta do ascenso estudantil, constrói uma tendência no movimento secundarista paulista chamada Alicerce e Luta, e que posteriormente, a organização trotskista CS, passa a adotar aquele nome. Trataremos desse assunto no próximo capítulo.[29]
O movimento estudantil universitário também avança na sua organização na capital do Estado do Pará. Primeiro, os novos ativistas do movimento vão forjando a construção de Centros Acadêmicos; cada curso deveria ter o seu. E depois, na UFPA, são realizadas em 1981 as eleições diretas para o Diretório Central dos Estudantes, a maior universidade da região norte.

Até fecharmos esta edição, apenas duas chapas – ‘Novo tempo’ e ‘Sair dessa maré’ – estavam concorrendo às eleições para o Diretório Central dos Estudantes da UFPa., no dia 4 de maio, nas primeiras eleições diretas dos últimos dez anos. Há quase dois anos o DCE não tinha uma diretoria bem estruturada, porque a reitoria boicotou a realização das eleições. Mesmo assim, a entidade vinha sendo assumida por um Conselho de Entidades de Base, formado pelos Centros Acadêmicos recém-construídos (Já existem 16).[30]  

O movimento estudantil estará envolvido nas diversas greves de professores, tanto da rede estadual como na UFPA. Suas Entidades se unificarão a outras forjadas pelos trabalhadores para reivindicar, questionar e transformar a realidade vigente. E seus ativistas passavam a se vincular a organizações clandestinas ou semiclandestinas para apresentar um projeto de sociedade, que na ampla maioria, inclinava-se para o socialismo. O Fato é que a juventude por ser um setor da sociedade mais dinâmico e aberto a novas idéias se transformara no principal fornecedor de militantes para a esquerda na cidade de Belém.
Os Primeiros trotskistas paraenses a organizarem-se em partido vivenciavam essa realidade complexa, arbitrária e cheia de possibilidades. Vislumbravam, assim, a possibilidade de por meio da intervenção nos movimentos sociais derrubar o regime militar, mas também, o sistema burocrático dos Estados do bloco Soviético e China, e principalmente, a superação do sistema capitalista em que viviam. Falavam em revolução política para os Estados burocratizados de ditadura do proletariado e de revoluções socialistas para o resto do mundo. Eles eram jovens estudantes. 
A conjuntura política era propícia ao surgimento de novas organizações ou a expansão das já existentes. O maior ou menor dinamismo de uma política revolucionária está intimamente ligado ao grau de lutas entre as classes e suas frações. Em momentos de crise, a instabilidade traz consigo a perspectiva de superação. A calmaria das mudanças lentas, graduais e sem choques dos tempos de crença cega nos governos, regimes e sistemas são substituídos por uma vertiginosa necessidade de transformações, que se darão ao calor da maior ou menor capacidade coletiva de forjar instrumentos de mudança. Arcary fala que “fora de uma situação revolucionária, as propostas radicais sempre foram ultraminoritárias, as tendências revolucionárias sobrevivem à margem dos grandes fluxos e opinião das massas”. [31] Mas, o fato da própria chegada de muitas idéias revolucionárias na capital do Pará, mesmo que de diferentes matizes, deixa evidente a necessidade pulsante de transformação nas camadas populares.
 O trotskismo em Belém foi, e continua sendo, um desses instrumentos construídos pelas classes exploradas de nossa cidade na tentativa de apresentar um projeto social alternativo às calamidades que se sofrem dentro do sistema capitalista brasileiro, que nesse momento histórico vive a crise econômica mundial, e, mais do que isso, a gestação de uma conjuntura revolucionária, uma revolução política, que tem como protagonistas o povo pobre, trabalhador e a juventude. Tendo como tarefa à derrubada da ditadura e a superação material das mazelas, parte esta que não foi, até então, concluída. 


[1] Para entender o conceito de “crise” ler: Arcary (2004) p. 15-16
[2] Hobsbawn (1995), p. 394
[3] Ibdem, p. 394-398
[4] Ibdem, p. 398-399
[5] Ibdem, p. 401
[6]  Ibdem, p. 409-410.
[7] Optamos por este termo por entendermos como Hobsbawn que essa área era difusa no espaço territorial, podendo estar nos referindo a América Latina, Ásia, África e Oriente Médio. E também por entendermos que esse mundo era uma “Zona Mundial de Revolução”. p. 421 
[8] Ibdem, p. 407-408.
[9] No jornal Resistência, Nº 37, de maio de 1982, encontramos duas matérias sobre as tarefas políticas e de solidariedade que os revolucionários deveriam ter em relação à luta dos trabalhadores poloneses. A primeira foi escrita pela direção da organização Convergência Socialista e falava de uma revolução política em marcha nesse país e a segunda de autoria de João Pedro Hass.      
[10] Revolução Política foi um conceito cunhado por Trotsky na década de trinta como a estratégia política para salvar a revolução Russa. Para esse revolucionário não havia necessidade de lutar por revoluções sociais nos paises onde a burguesia foi expropriada, a tarefa então era mudar o regime burocrático instalado por Stalin construindo uma nova direção revolucionária que tivesse a perspectiva da revolução permanente. Podemos verificar esse conceito em: TROTSKY, Leon. A revolução Traída: O que é e para onde vai a URSS. São Paulo: Sundermann, 2005. Mas à frente esse conceito assumirá nova perspectiva principalmente em Arcary (2004).
[11] Hobsbawn (1995), p. 412
[12] Arcary (2004), p. 16
[13] Gohn (1991), p. 12
[14] Arcary (2004), p. 27 e 36.
[15] Ibdem, 27-40
[16] Petit (1996), p. 35.
[17] Ibdem, p. 36.
[18] Ibdem, ibdem.
[19] Jornal Resistência, nº 20, p. 2.
[20] Petit (1996), p. 59-60.
[21] Ibdem, ibdem.
[22] Jornal Resistência, nº 15, p.17.
[23] Ibdem, sem número, de fevereiro de 1979, p. 12 e 13
[24] Costa (2006), p. 20.
[25] Jornal Resistência, nº 20, p. 7.
[26] Ibdem, ibdem.
[27] Ibdem, nº 40, p. 7.
[28] Ibdem, nº 41, p. 8.
[29] Carta enviada por e-mail a este autor em 31/10/2008.
[30] Jornal Resistência, nº 25, p.12.
[31] Arcary (2004), p. 27.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

A escola do Realengo... O que isso tem haver com a decadência do capitalismo



Na quinta-feira, 07/04, O Brasil acompanhou aflito as noticias que vinham do bairro Realengo, Zona Oeste da cidade do Rio de janeiro, onde Wellington Menezes de Oliveira, 24 anos, descarregou mais de cem tiros contra estudantes da escola municipal Tasso da Silveira, matando 13 estudantes e deixando várias crianças e adolescentes gravemente feridos. Imediatamente após o ocorrido foi associado à chacina no Rio de Janeiro a eventos semelhantes em países como EUA, Finlândia, Japão entre outros do mundo capitalista desenvolvido. Nestes países as cenas também são de horrenda barbaridade, onde as vítimas foram alvejadas por um atirador que geralmente tinha alguma relação com o local escolhido para o ataque. No caso de Wellington sua relação era de ex-aluno da escola onde efetuou os disparos.
Cenas impressionantes e grotescas que a grande mídia explora como manchete ao longo do dia, em coberturas ao vivo e fleches a cada novo momento. Esse sensacionalismo das redes de comunicação não está interessado em fazer uma profunda reflexão sobre o fato, mas apenas tornar a brutalidade em audiência. Entretanto, essa invasão da escola Tasso da Silveira tem um profundo sentido para nossa sociedade. Ela deixa em evidência, mais uma vez, a insanidade doentia em que o capitalismo está levando a cada um de nós. A mídia tenta a todo custo esconder essa situação, desviando o foco do atentado para a carta do autor dos disparos, onde ele apresenta suas motivações ligadas a questões religiosas radicais, que foi corroborada pela declaração da irmã do assassino e que caiu como mais um factoide para embutir na cobertura maior atrativo, podendo assim, criar mais um tipo de pré-conceito, agora contra as religiões.
Assim, o povo do Rio de Janeiro já tão castigado pelo deslizamento de terras na região serrana, pela guerra do tráfico nos morros cariocas, agora tem que conviver com mais esse triste episódio. E a responsabilidade sobre esses fatos recai sobre quem? É verdade que é infinitamente improvável discernir quando alguém doente toma a decisão de sair atirando contra crianças dentro de uma escola, mas é notório que em uma sociedade onde se convivem com valores morais degenerados, corrupção, miséria, violência, pré-conceitos de toda ordem, os seres humanos acabam doentes. Essa degeneração é promovida pela decadência da sociedade capitalista burguesa.
Em artigo intitulado “Da Moral Revolucionária ao ‘vale-tudo’”, Martín Hernández (2006), fala da uma moral burguesa degenerada que toma conta de nossa realidade, onde individualismo, competitividade são expressões de uma sociedade onde se vale de qualquer recurso para se atingir o almejado. Assim, a decadência econômica e política do capitalismo entram na esfera da moral e o vale-tudo se faz presente no dia a dia das pessoas, que veem no vale-tudo das empresas em busca do lucro, dos famosos pela exposição na mídia, dos países ricos pelos recursos naturais de países pobres ou de atletas que matam para não assumir paternidade, um manual para suas vidas. Vale-tudo mesmo! Inclusive matar crianças dentro de suas salas de aulas em nome de Deus, ou sei lá do que, para se conseguir uma sociedade moralmente melhor, como a carta escrita por Wellington afirma, referindo-se a quem poderia remover seu corpo, “Primeiramente deverão saber que os impuros não poderão me tocar sem luvas, somente os castos ou os que perderam suas castidades após o casamento e não se envolveram em adultério poderão”.
Tim Maia, em outro contexto, já cantava “vale, vale-tudo, vale o que vier, vale o quiser, só não vale homem com homem e nem mulher com mulher”. Essa é a cara da sociedade capitalista em que vivemos. Sua moral nos torna doentes e é preciso culpar a quem faz isso. Casos como esse da escola do Realengo não serão isolados se não mudarmos nossa sociedade. E mudar essa sociedade só pode acontecer ser for revolucionando sua estrutura burguesa, para que sejamos mais solidários e felizes, onde as mortes ocorram naturalmente e não por assassinatos.
            Nossa profunda solidariedade às famílias das crianças assassinadas e feridas!

colaboração do Profº Luis Carlos Barros da Silva

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Como surgiu o Trotskismo em Belém? Artigos que introduzem a essa História.


Em 2009, por ocasião do termino de meu curso de graduação em História na UFPA, apresentei meu Trabalho de Conclusão de Curso intitulado “Trotskismo em Belém: Incursões Introdutórias (1980 – 1982), que tinha como objetivo dar o primeiro passo para o resgate da história do trotskismo em terras papa-chibé. Tarefas das mais árduas, pois não contávamos com uma bibliografia especializada e pela fragmentação dos sujeitos envolvidos. O texto que foi apresentado naquela ocasião cumpria esse objetivo de organizar informação e indicar um caminho a outros pesquisadores e ativistas políticos interessados em conhecer essa história. Neste sentido, ao publicarmos em nosso blog esse texto estamos buscando dar continuidade a essa tarefa e, além, dar publicidade a temática para que assim gere curiosidade e fomente novos textos e mais informações. O texto na integra está disponível na biblioteca do Laboratório de História da UFPA e será publicado em partes neste blog semanalmente. Começamos disponibilizando a parte introdutória, onde damos um panorama geral da temática. Esperamos que vocês gostem. Comentários, questões e críticas serão muito bem vindas. Boa leitura!   

Introdução

Esta pesquisa tem por objetivo realizar uma incursão introdutória à história do trotskismo em terras paraenses, mas especificamente belenenses, nos anos de 1980 a 1982. Período em que verificamos a construção de uma organização notoriamente trotskista, a Convergência Socialista, a partir de um grupo de jovens estudantes que se denominava Grupo de Reconstrução do Movimento Primário e Secundarista (GREMPS).
O trotskismo é a designação utilizada para nomear os seguidores do revolucionário russo León Davidovich Trotsky, que em 1938, na França, funda uma nova Internacional Comunista (IV Internacional), em oposição a já existente III Internacional, controlada pelo Partido Comunista da URSS e seu máximo dirigente Stalin. Essa nova Internacional após a morte de Trotsky e os anos perturbadores da 2º guerra mundial se dividiu e dispersou em distintas correntes, mas o Programa de Transição[1] continuou como o guia programático dos diversos agrupamentos que dela derivaram e que a reivindicam, assim como, a forma organizacional que assumem, tendem ao regime partidário denominado “centralismo democrático”.       
O tema que pretendemos abordar nesta pesquisa faz parte da historia recente das lutas sociais por democracia na sociedade brasileira, que viu o regime dos militares (1964-1985), ser substituído por uma “democracia” que manteve o poder do Estado brasileiro nas mãos das elites econômicas, ou melhor, da burguesia, termo que acreditamos ser o mais adequado por se tratar de uma sociedade capitalista. Entretanto, apesar da solução encontrada pelos militares ter sido vitoriosa, pois a transição para a democracia foi controlada mantendo a ordem burguesa da sociedade, a vaga de lutas sociais abertas em fins dos anos 70, com o levante dos operários paulistas sendo um dos momentos mais agudos deste contexto, culminou anos depois num esplendoroso processo de revolução política no Brasil[2]. Os protagonistas desse levante social obtiveram importantes experiências de organização que marcaram profundamente o Brasil de hoje e mesmo em regiões periféricas da economia nacional, como o Pará, foram feitas sentir suas conseqüências.
É desta forma que entenderemos a construção de um agrupamento trotskista em terras paraenses. Fruto desse momento de convulsão da luta de classes no Brasil e também no mundo é que se implanta primeiramente entre os secundaristas belenenses o Grupo de Reconstrução do Movimento Primário e Secundarista (GREMPS), em 1980, que posteriormente veio a gerar o núcleo fundador da Convergência Socialista (CS) em Belém. A CS já atuava entre a juventude universitária e secundarista de São Paulo e Rio de Janeiro, e iniciava uma transferência de militantes oriundos desta juventude para junto da classe operária que estava inflamada e preste a entrar em erupção por meio das greves por reajuste salarial e contra a intervenção sindical do governo militar.
            A história dessa organização trotskista remonta há alguns anos antes, mais precisamente a 1970, e em sua trajetória fora identificada por diversos nomes: Ponto de Partida; Liga Operaria (LO); Partido Socialista dos Trabalhadores (PST); Convergência Socialista (CS); Alicerce da Juventude e novamente CS. Em 1994 a Convergência Socialista, depois da expulsão do Partido dos Trabalhadores (PT), em 1992, foi à principal componente do atual Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU).
             Em 1970 o Chile vivia sobre o governo do socialista Salvador Allende, um oásis democrático na América Latina, e para lá muitos perseguidos pelas ditaduras foram exilar-se.
“Entre os exilados brasileiros estavam Jorge Pinheiro e Maria José Lourenço – ex-militantes do Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR), ex-dirigentes estudantis do CA de Comunicações da Universidade Federal do Rio de Janeiro e jornalistas do jornal alternativo “O Sol” –, Ênio Bucchioni, ex-militante da AP, e Túlio Quintiliano, ex-militante do PCBR. Por meio de Mário Pedrosa (importante intelectual brasileiro e ex-militante trotskista) e Hugo Blanco (dirigente peruano), também exilados no Chile, e de Peter Camejo (dirigente do Socialist Workers Party dos Estados Unidos), os militantes brasileiros entraram em contato com a Quarta Internacional e formaram o grupo Ponto de Partida”.[3]
           
Ponto de Partida! Nome realmente sugestivo para o início de uma organização que se consolidou em todas as regiões brasileiras, a primeira a apresentar um candidato trotskista a presidente da republica (1998), e hoje, no campo do sindicalismo, impulsiona a construção da Coordenação Nacional de Lutas (CONLUTAS, 2006), como uma nova Central Sindical e Popular em alternativa a Central Única dos Trabalhadores (1983). Mas porque estudar uma corrente trotskista? Mais ainda, porque estudá-la em Belém do Pará?
             Primeiramente, gostaríamos de localizar que a construção do trotskismo não é um fenômeno novo no Brasil, pois desde 1927/28, a partir de uma ruptura no antigo PCB surge a primeira organização próxima às idéias do revolucionário Trotsky[4]. Porém, é dentro desse período de abertura democrática, que se formaram as modernas organizações trotskistas. As principais são: A Organização Socialista Internacionalista (OSI), mais conhecida pelo nome do seu jornal “O Trabalho” (1976), A Democracia Socialista (DS, 1979) e a Convergência Socialista, que foi criada em 1978 como um movimento e não como um partido político de esquerda, mas que veio a tornar-se posteriormente[5]
            Todavia, o trotskismo é um fenômeno novo em uma região periférica, que começa a ser incorporada a economia nacional e também internacional como é o caso da Amazônia. Os últimos anos da década de 70 e a seguinte formam um dos períodos de maior efervescência política em nosso país e também na capital do Pará, o que chamamos de revolução política em marcha. Marchava-se contra uma ditadura militar que também buscava dar uma saída a essa crise político-econômica que abatia o Brasil, e que por sua vez, foi vitoriosa ao eleger, em 1985, Tancredo Neves sem o voto direto e universal, dando assim fim a um dos períodos de nossa história mais aterrorizador.
             É nessa vaga de lutas sociais que o trotskismo toma propulsão e se expande para regiões em que não existia. Essa explosão de força é o epicentro do surgimento do trotskismo em Belém. Ela formou uma grande geração de ativistas políticos oriundos das classes médias, que se radicalizavam ao calor da falta de direitos políticos, de liberdade de imprensa, contra a carestia, a falta de moradia e as perseguições a tudo o que fosse contrário ao regime militar em voga. O que quer dizer que esses novos sujeitos sociais em luta se aproximavam das reivindicações dos trabalhadores e das camadas mais pobres de nossa sociedade, onde o marxismo foi a ferramenta teórica para tal propósito, e passaram a atuar organizadamente conformando partidos. Entres esses partidos e grupos políticos forjados estavam os trotskistas, e entre estes estava a CS.
             Cabe ressaltar que no caso da organização Convergência Socialista o setor social que a construiu e consolidou foi a juventude, principalmente a universitária e a secundarista. Especificamente em Belém, os estudantes secundaristas deram o contorno ao núcleo fundador desta organização que se expandiu para a Universidade Federal do Pará. Isso porque a juventude toma a dianteira na reorganização de suas entidades tradicionais como a União Nacional dos Estudantes (UNE, 1979), União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES, 1981), diversas Uniões Municipais e Estaduais de Estudantes, Diretórios Centrais de Estudantes e Centros Acadêmicos, que são reativados ou reconstruídos um pouco antes ou durante a entrada em cena das novas ferramentas de organização dos trabalhadores, que têm como ponto mais alto a reorganização do movimento sindical que começa a romper com o atrelamento ao governo militar. E não só; as lutas estudantis no Brasil pela anistia irrestrita e contra a ditadura militar se verificam antes das greves do ABCD paulista, jogando no epicentro das lutas sociais os metalúrgicos paulistas, que em 1979 e 1980 idealizaram o Partido dos Trabalhadores (PT), e a Central Única dos Trabalhadores (CUT), em 1983.
            No intuito de adentrar nesta história é que ao longo destes dois capítulos exporemos os frutos de nossa pesquisa. O primeiro versa sobre a crise econômica mundial que se verifica a partir de 1973. No Brasil, com o presidente Ernesto Geisel (1974), começa o período de “distensão política” para o processo de transição a democracia de forma lenta, gradual e segura. Mas apesar dos militares buscarem essa saída, os movimentos sociais entram em cena provocando muitos enfrentamentos, fazendo com que esse processo de reabertura democrática seja também um momento de rápida organização dos setores populares. Contraditório na sua forma, essa proliferação de grupos políticos aumenta em escala nacional trazendo insegurança para a burguesia brasileira, está vê sendo forjado, o que veio a ser uma das maiores ferramentas de lógica de ruptura com a sua ordem, que é o PT e as forças sociais-políticas que o compõem. Ou seja, um processo revolucionário em marcha, que foi derrotado, mas que se configurou como uma revolução política, porque destronou um regime ditatorial. Para nós esse processo é a pré-história do trotskismo em Belém, por ser neste contexto que se gesta a primeira organização deste matiz.
            No segundo capítulo focalizamos nosso estudo no surgimento do GREMPS e seu desenvolvimento, onde poderemos perceber as suas transformações até o momento de sua entrada na Convergência Socialista em 1981 e os primeiros passos dessa organização na cidade de Belém. Nosso olhar está voltado para entender a trajetória desse grupo para que possamos compreender a evolução de sua atuação até o momento em que deixa de ser GREMPS e passa a ser a primeira organização trotskista do Pará.
            Por fim, cabe fazer uma apresentação de nossa metodologia nesse trabalho. Mesmo sendo um assunto bem ressente, poderia parecer que disporíamos de um vasto leque de fontes documentais, mas como se trata do estudo de uma organização política perseguida pela ditadura e minoritária entre os ativistas políticos desse período, tivemos muitos problemas na obtenção de fontes documentais. As próprias organizações descendentes da Convergência Socialista em Belém (PSTU e CST), não dispõem de um acervo documental que nos pudesse ser útil, sendo necessária a pesquisa no acervo da Biblioteca Pública Arthur Vianna do jornal “Resistência”, que teve inicio em sua circulação no ano de 1978, e foi de fundamental importância para nossa pesquisa, pois em seus diversos números encontramos matérias referentes ao GREMPS ou a membros desse grupo, bem como, podemos ter uma avaliação sobre o panorama das lutas sociais travadas nesse período no Pará. Esse material jornalístico foi a base de nosso trabalho de investigação sobre a origem e desenvolvimento do trotskismo em Belém.
            Mas para que pudéssemos avançar na pesquisa foi necessário lançar mão da fonte oral, que tem sua justa necessidade provada pela falta de documentação escrita relativa a dinâmica interna do grupo que estudamos. Entretanto, não queremos criar aqui uma expectativa exacerbada em nossos interlocutores a cerca da utilização desta ferramenta em nosso trabalho, à medida que ele é uma introdução, uma investigação inicial sobre tal tema. Assim sendo, o que buscamos neste presente texto é apenas apresentar o contexto em que ele pode ser introduzido em Belém e como pode concretizar-se. Deixando para posterior trabalho uma discussão mais aprofundada sobre os por menores e contradições deste fenômeno.
            É assim que utilizamos apenas uma única entrevista. Sendo que a seleção desta esteve intimamente ligada à necessidade de ouvir uma trotskista da época da fundação da CS em Belém, que não apenas reivindica-se a sua história, mas que seguisse reivindicando também as mesmas concepções políticas e tradição organizativa. Como falamos anteriormente a Convergência Socialista foi a principal organização a construir o atual Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), e por tanto, a única a estar dentro deste critério foi Conceição Rodrigues de Meneses, que foi do GREMPS, fundadora da Convergência Socialista em Belém e atualmente militando no PSTU. Explicado isso, não quer dizer que não perdemos em informação optando por essa metodologia - e acreditamos que seja esse o ponto mais frágil de nosso trabalho - mas para o quê nos propomos a realizar ela foi de fundamental importância e cumpriu bem a tarefa a que foi legada. Por fim, cabe notificar a utilização de outros jornais como o “Convergência Socialista” e o “alicerce” que nos foram cedidos digitalizados pela própria Conceição Meneses e que podem ser encontrados no Centro de Documentação (CEDOC) do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado em São Paulo.



[1] Para melhor compreensão das divisões internas dentro da IV Internacional e no Trotskismo ver artigo: Os 70 anos da IV Internacional de Alicia Sagra disponível em www.pstu.org.br
[2] Para melhor compreensão de conceitos que iremos abordar tal com revolução política ou fevereiro, ou revolução social ou outubro, ou ainda situação revolucionária ver: ARCARY, Valério. As Esquinas Perigosas da História: Situações Revolucionárias em Perspectiva Marxista. São Paulo: Xamã, 2004.

[3] Ver: Opinião Socialista. ed. Nº. 355, de 25 de setembro a 1º de outubro de 2008. Está disponível no site www.pstu.org.br
[4] Ver: COGGIOLA, Osvaldo. O Trotskismo no Brasil (1928–1964). In. Mazzeo, Antonio Carlos & LAGOA, Maria Izabel (Orgs). Corações Vermelhos: Os Comunistas Brasileiros no Século XX. São Paulo: Cortez, 2003 e FERREIRA, Pedro Roberto. O Brasil dos Trotskistas (1930–1960). In. Cadernos AEL: Trotskismo. Campinas: UNICAMP/IFCH/AEL, vol. 12, nº 22/23, 2003.
5 Marxismo no Brasil. Campinas: Ed. da Unicamp, Vol. 6, 2007. E para entender as mudanças ocorridas na CS ver: FARIAS, Marcos Moutta de. A Experiência do Movimento Convergência Socialista. In. Cadernos AEL: Trotskismo. Campinas: UNICAMP/IFCH/AEL, vol. 12, nº 22/23, 2005. Para melhor entender a histórias das três correntes citadas ver: KAREPOVS, Dainis e LEAL, Murilo. Os Trotskismos no Brasil: 1966-2000. In. RIDENTI, Marcelo e REIS, Daniel Aarão (Org). História do Marxismo.